segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Fé e Razão

Olá amigos,

Quero partilhar alguns trechos da Carta Encíclica Fides et Ratio, do Papa João Paulo II. Estou lendo este documento há algum tempo, e tentando agora me dedicar a concluir sua leitura. A cada trecho lido, a cada capítulo, fico mais maravilhado! Ele forma a base para todo o diálogo entre fé e razão, esclarecendo muitos pontos a respeito.

Este blog, apesar do título “Ciência e Fé”, na verdade pretende estender-se também ao diálogo mais amplo entre fé e razão; esta Encíclica deixa claro que, quando se refere a razão, inclui os campos das ciências e da filosofia.

Meu interesse por ler esta Encíclica despertou ao ler o livro “Ciência e Fé em harmonia”, de Felipe Aquino. Já fascinado por estar conhecendo as histórias de alguns sacerdotes cientistas, esse livro abriu portas para outras informações a respeito.

Já no início da Encíclica, encontramos o texto:

“A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecer a ele, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio (cf. Ex 33,8; Sl 27/26,8-9; 63/62,2-3; Jo 14,8; 1Jo 3,2).”

Destaco alguns trechos da Encíclica:

FR 8: “...além do conhecimento da razão humana, por sua natureza, capaz de chegar ao Criador, existe um conhecimento que é peculiar da fé. Esse conhecimento exprime  uma verdade que se funda precisamente no fato de Deus que se revela...”

FR 9: “...a verdade alcançada pela via da reflexão filosófica e a verdade da Revelação não se confundem, nem uma torna a outra supérflua: ‘Existem duas ordens de conhecimento, diversas não apenas pelo seu princípio, mas também pelo objeto. Pelo seu princípio, porque, se num conhecemos pela razão natural, no outro o fazemos por meio da fé divina; pelo objeto, porque, além das verdades que a razão natural pode compreender, nos é proposto ver os mistérios escondidos em Deus, que só podem ser conhecidos se nos forem revelados do alto’1. A fé, que se fundamenta no testemunho de Deus e conta com a ajuda sobrenatural da graça, pertence efetivamente a uma ordem de conhecimento diversa da do conhecimento filosófico. De fato, este assenta sobre a percepção dos sentidos, sobre a experiência, e move-se apenas com a luz do intelecto. A filosofia e as ciências situam-se na ordem da razão natural, enquanto a fé, iluminada e guiada pelo Espírito, reconhece na mensagem da salvação a ‘plenitude de graça e de verdade’ (cf. Jo 1.14) que Deus quis revelar na história, de maneira definitiva, por meio do seu Filho Jesus Cristo (cf. 1Jo 5,9; Jo 5,31-32).”


FR 13: “Em auxílio da razão, que procura a compreensão do mistério, vêm também os sinais presentes na Revelação.”

Logo, vemos que fé e razão são complementares. A razão é o movimento do homem tentando alcançar a verdade; em seu auxílio, vem a fé, Deus se revela ao homem, já que a razão não consegue abarcar tudo.

A frase em que o Papa diz que “...a fé e a razão... constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”, mostra que ambas devem ser usadas conjuntamente. Somente a razão não fornece as respostas a todos os anseios do ser humano, desprezando-se a fé; nem somente com a fé, desprezando-se a razão...

O Papa comenta sobre dois problemas que surgem quando se usa somente uma, ou somente a outra. Do uso apenas da razão, desprezando-se a fé, surge o racionalismo; do uso de uma fé desprovida da razão, surge o fideísmo. A Igreja alerta seus fiéis para que não caiam nem em um nem no outro extremo; vejamos em mais alguns trechos da Carta Encíclica Fides et Ratio:

FR 55: “Também na teologia, voltam a assomar as tentações de outrora. Por exemplo, em algumas teologias contemporâneas comparece novamente um certo racionalismo, principalmente quando asserções, consideradas filosoficamente fundadas, são tomadas como normativas para a investigação teológica...”

FR 55: “Não faltam também perigosas recaídas no fideísmo, que não reconhece a importância do conhecimento racional e do discurso filosófico para a compreensão da fé, melhor, para a própria possibilidade de acreditar em Deus. Uma expressão, hoje generalizada, desta tendência fideísta – é o ‘biblicismo’, que tende a fazer da leitura da Sagrada Escritura, ou da sua exegese, o único referencial da verdade...”

FR 48: “A razão privada do contributo da Revelação percorre sendas marginais, com o risco de perder de vista a sua meta final. A fé privada da razão põe em maior evidência o sentimento e a experiência, correndo o risco de deixar de ser uma proposta universal. É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta, não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e a radicalidade do ser.”

O cientificismo também é danoso, no sentido em que tenta fazer crer que a ciência traria respostas para todas as indagações humanas; o que de longe não é verdade.

O Papa fala firmemente tanto contra o racionalismo quanto contra o fideísmo. Para muitos fiéis, talvez seja mais claro o problema do racionalismo, geralmente manifestado por pessoas não crentes, que rejeitam a fé; o que pode levar ao materialismo, e por vezes também ao ateísmo. Quando lidamos com membros da Igreja, este problema talvez seja menos frequente; porém, pode ser que para alguns fiéis ainda pouco esclarecidos, o problema do fideísmo não seja tão nítido. Muitos acham que só a fé basta. Mas a Igreja fala firmemente que devemos conciliar a fé com a razão. A fé não pode ser algo ingênuo. Nós não aceitamos qualquer crença que se apresente por aí. Nós cremos porque sabemos que é o próprio Deus que se revela, e que tem toda a credibilidade. Vejamos:

FR 13: “Deus, que se dá a conhecer na autoridade da sua transcendência absoluta, traz consigo também a credibilidade dos conteúdos que revela. Pela fé, o homem presta assentimento a esse testemunho divino. Isso significa que reconhece plena e integralmente a verdade de tudo o que foi revelado, porque é o próprio Deus que o garante.”

Portanto amigos, como disse Santo Agostinho, em Sermões, 43,7,9: “Eu creio para compreender, e compreendo para melhor crer.”

Este texto foi baseado (com trechos compilados) no seguinte documento da Igreja:

- Carta Encíclica Fides et Ratio do Sumo Pontífice João Paulo II aos Bispos da Igreja Católica sobre as Relações entre Fé e Razão, 1998, (no Brasil, editado pela Paulinas). O documento está disponível também online, no site do Vaticano, conforme apontado pelo link.

Antes de ter tido acesso a esta Encíclica, consultei o livro:

- Felipe Aquino, “Ciência e Fé em harmonia”, Ed. Cléofas, 2004.

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